cidadanoticias - 18/12/2024
Quando falamos sobre a menopausa e suas consequências, a tendência é focarmos na pele seca e no cabelo ralo, porém todo o corpo da mulher passa por processos de mudança, inclusive a vagina. A menopausa é uma fase inevitável na vida de toda mulher, marcada pela última menstruação e pela diminuição dos níveis hormonais, especialmente o estrogênio. Mas como a menopausa atua na vida íntima da mulher?
Uma ampla pesquisa realizada por profissionais da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Faculdade de Medicina do ABC, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Pavia, na Itália, mostra que a mulher brasileira entra na menopausa quando tem, em média, 48 anos de idade, e o início da transição e a irregularidade menstrual começam aos 46 anos.
É importante que as mulheres entendam que, além dos conhecidos fogachos, insônia e alterações de humor, essa fase também traz mudanças significativas para a saúde vaginal – um tema ainda pouco discutido. Conversamos com a Dra. Carolina Orlandi, ginecologista e pós-graduada em nutrologia pela USP, especialista em cirurgias, para entender os impactos da menopausa na região íntima e como enfrentá-los com confiança.
Tudo decorre da diminuição natural do estrogênio durante a meia-idade. A partir dessa desaceleração hormonal, a mucosa, ou revestimento vaginal, sofre um golpe dramático, assim como toda a vulva.“A perda progressiva da função dos ovários reduz os níveis de estrogênio, o que afeta diretamente a mucosa vaginal. Ela fica mais fina e muitas mulheres têm a impressão de que até diminuiu de tamanho”, explica a Dra. Orlandi.
Durante a vida fértil, o estrogênio ajuda a manter a camada celular da vagina espessa e hidratada, com um pH ácido que protege contra infecções. Com a menopausa, essas camadas afinam, o pH aumenta e as bactérias e fungos encontram um ambiente mais favorável para se multiplicar.
Essas mudanças podem causar:
“Existe uma condição conhecida como síndrome geniturinária da menopausa (SGM), que é uma desordem crônica que afeta mulheres nessa fase. É importante falarmos sobre isso, pois, sem o tratamento adequado, esses sintomas não apenas persistem, mas também tendem a se agravar progressivamente ao longo do tempo, comprometendo a qualidade de vida, a saúde sexual e o bem-estar emocional da mulher”, explica a Dra. Ela continua dizendo que, por isso, o diagnóstico precoce e a adoção de abordagens terapêuticas, que podem incluir tratamentos hormonais e não hormonais, são essenciais para aliviar os sintomas e prevenir o avanço da condição. “Ainda há muito tabu em torno do tema, especialmente por estar associado à sexualidade. Segundo estudos, cerca de 70% das mulheres não relatam esses sintomas ao médico”, afirma a Dra. “A expressão ‘atrofia vaginal’, por exemplo, soa pejorativa, e isso afasta as mulheres”, ressalta. Campanhas de conscientização e ações educacionais podem ajudar a quebrar essas barreiras.
Existem diversas alternativas para melhorar a qualidade de vida das mulheres que enfrentam a SGM: “O estrogênio tópico é seguro para a maioria das mulheres e pode aliviar significativamente os sintomas”, afirma a ginecologista.
A reposição hormonal sistêmica, com comprimidos ou géis, também traz benefícios adicionais, como prevenção da osteoporose e melhora do sono.
Atualmente, existem algumas tecnologias avançadas, como laser e radiofrequência, que auxiliam no tratamento. “Essas tecnologias estimulam a produção de colágeno, melhorando a elasticidade e hidratação da mucosa”. Realizadas em séries de 3 a 4 aplicações, oferecem resultados duradouros e podem ser utilizadas por mulheres com contraindicação à reposição hormonal.
Cuidados diários
Manter a região externa limpa com sabonetes de pH neutro, usar roupas leves e evitar produtos como lenços umedecidos e absorventes com fragrância ajuda a preservar a saúde vaginal. “É como a pele da boca: delicada e precisa de cuidados específicos”, compara a médica.
“Os probióticos ajudam a repovoar a flora vaginal e intestinal, prevenindo infecções. Escolher produtos de fabricantes confiáveis e com cepas adequadas é essencial”, destaca Dra. Carolina.
Campanhas educativas e consultas ginecológicas abertas são fundamentais para que as mulheres se sintam confortáveis em discutir os sintomas da menopausa. “O médico deve perguntar e orientar, ajudando as pacientes a entenderem que existem soluções eficazes para melhorar a qualidade de vida”, reforça a especialista.
A menopausa é um novo capítulo que pode ser enfrentado com informação, cuidado e os avanços da medicina. Buscar ajuda e adotar um estilo de vida saudável são os primeiros passos para viver essa fase com bem-estar e plenitude.
Relação sexual
Quando se trata de sexo, a especialista ressalta a importância de escolher lubrificantes à base de silicone com osmolaridade próxima à da vagina. “Lubrificantes desse tipo ajudam a reduzir o atrito e oferecem uma hidratação mais duradoura, já que não são absorvidos rapidamente”, explica a Dra. Carolina Orlandi. “Em contrapartida, produtos à base de água podem, na verdade, retirar a umidade do tecido e causar ainda mais ressecamento.”
O importante é sempre procurar um profissional especializado e tirar todas as dúvidas para que, assim, possam ser quebradas as barreiras e o medo relacionados à menopausa.